É isso ai galera do rock, muito bom vê-los por aqui novamente em mais uma matéria do "Rock pra Ler".
Hoje vou contar um causo interessante, do tipo que normalmente não aparece nas bem sucedidas histórias ou biografias das bandas, mas que vale a pena ler.
Isso aconteceu em 1970, na primeira turnê do Deep Purple nos USA. A banda já existia ha algum tempo (desde 1967), já chamava a atenção de muita gente e era hora de conquistar o mundo. Como parte obrigatória desse ciclo, não poderia faltar shows no novo continente e depois de várias tentativas, um bom negócio foi fechado com empresários americanos. A banda se preparou como pôde para atender as exigências, que tinham entre outras coisas tolerância zero para atrasos ou desistências de shows. Ou seja, nada de noitadas alucinantes, bebedeiras e drogas. Tudo tinha de funcionar perfeitamente, senão perderiam dinheiro.
Tudo ia bem até então, mas houve um pequeno problema na hora de embarcar. O guitarrista Richie Blackmore adquiriu uma febre intensa, fruto da vacina tomada dias antes justamente por causa da viagem. E como sabemos, em casos como esse nenhuma alfandega deixa você sair do país. Pior ainda: Entre a chegada da banda e os primeiros shows da turnê haviam apenas um ou dois dias e a banda não tinha como preparar ninguém para substituí-lo à tempo.
Apesar do problema a banda seguiu viagem (Blackmore foi em seguida, tão logo melhorou, mas perderia o primeiro show).
Por sorte a banda tinha Tony Edwards como empresário, um cara acostumado com situações como essa. Chegando aos USA, Edwards procurou seu parceiro americano Joe Miller e pediu a indicação de algum músico que pudesse aprender rápido e substituir Blackmore. Ele indicou um guitarrista jovem que tocava em bandas locais, que por sua vez atendeu o chamado e não só aprendeu, como tocou no referido show.
Como o Purple não era até então uma banda tão famosa por lá, o publico sequer percebeu o fato e aplaudiu a banda como se nada tivesse acontecido. Nos shows seguintes Blackmore já havia se juntado ao time novamente e a vida seguiu seu curso.
Mas quem era afinal esse misterioso guitarrista, que se não tivesse se apresentado naquele dia poderia ter jogado toda a carreira da banda pelo ralo com a fama de má cumpridora de compromissos?
Era nada mais, nada menos que Christopher Cross.
Sim, ele mesmo, o músico que anos mais tarde invadiu o mundo com musicas suaves e baladas românticas. Cross fez muito sucesso nos anos 80, com "sailling", "charm the snake", "Arthur's theme" e outras. Nem dá pra imaginar a cena na hora do show, pois até a aparência do próprio é bem diferente do que eram os roqueiros ingleses. Nas entrevistas mais recentes, por exemplo, o renomado músico mais parece um "vendedor de loja de acessorios automobilisticos" do que propriamente um rock star (nada contra a profissão de vendedor, claro, rs).
O que mais me intriga nessa historia é como um cara de carreira musical tão diferente conseguiu se adaptar tão rápido e cumprir bem o seu papel. Só posso imaginar três coisas: compromisso, muita concentração, e absoluta seriedade como músico.
Cross inclusive se tornou também inspiração para muitos músicos de diferentes estilos (incluindo o heavy metal) e esses, por sua vez regravaram muitas de suas músicas com resultados incríveis: Vejam "ride like the wind", na versão do Saxon e tirem suas próprias conclusões.
Além de tudo, Cristopher Cross também é muito gentil em suas entrevistas e foi em uma delas que ele próprio contou essa curiosa história. Sinceramente eu já gostava do seu trabalho (apesar de não ser rock), mas depois dessa revelação, a pontuação subiu bastante. Já tinha lido sobre isso em algumas materias do Whiplash e em uma entrevista ao jornalista Daniel Vaughn, do R7, mas depois de dar uma levantada na história toda resolvi escrever aqui.
Uma outra coisa legal na jornada do simpatico músico é o fato de ele ter resistido as investidas da própria gravadora, que queria que ele mudasse o som e fizesse musicas as quais não queria fazer, mesmo isso tendo custado uma "geladeira" de anos nos lançamentos comerciais.
Bons músicos são aqueles que estudam, se esforçam e e têm atitudes coerentes.
Que possamos ser assim também, e longa vida a Christoper Cross!!!
Zé Vedovato
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